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O problema não é a oposição fazer Lula virar meme nas redes sociais, mas ele pauta-las com suas falas
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Lula se mostra com dificuldade de entender a nova realidade global e da nova condição do Brasil como um player do agronegócio global
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Marco Maciel era tão cuidadoso com o que falava, quando estava na vice-presidência de Fernando Henrique Cardoso que quando fazia discurso só lia do que estava escrito. E quando dava entrevistas repetia algumas palavras de ligação que se soube depois eram para dar tempo de formular a frase final.
Ele sempre dizia que havia uma distância muito grande entre o que um senador falava na tribuna no Congresso (discurso) e o que o presidente ou vice-presidente da República falava em qualquer lugar (pronunciamento).
O presidente Lula é um orador extraordinário, ao menos foi no passado. Mas sempre tropeçou nas entrevistas. Não é de agora. O que não havia antes eram as redes sociais que permitem que uma frase mal construída mentalmente seja cortada e vire um mame ou uma base de um novo vídeo pelos adversários em minutos.
E isso tem a ver com o que o governo e sua nova equipe de comunicação terá que conviver. No passado, a Imprensa que entregava o jornal no dia seguinte até corrigia o tempo do verbo editando a fala do presidente. Hoje, isso é o que subsidia o ataque da oposição.
O presidente também tem uma enorme dificuldade de entender o que aconteceu com o Brasil desde que assumiu a presidência quando tudo que produziu no campo somou 47 milhões de toneladas, em 2003 e a potência agrícola que nos tornamos liderando, aos menos, 10 itens na produção global sete deles exportados com os maiores volumes do mundo que este ano nos levará a 325 milhões de toneladas.
No passado, como importador poderia baixar (como baixou o imposto) para regular o abastecimento interno. Ou fazendo uso de estoques reguladores que podiam ser liberados reduzindo a pressão.
Hoje isso virou ao contrário, pois tanto nas commodities agrícolas como milho, soja, feijão, arroz como nas proteínas animal como carne bovina, frango e porco os preços estão diretamente conectados ao dólar o que reduziu a margem de manobra do governo.
O presidente viu isso ano passado quando assessores desavisados da realidade sugeriram importar um milhão de toneladas de arroz depois das enchentes no Rio Grande do Sul.
Como se de uma semana para outra fosse possível encontrar no mercado internacional esse volume de arroz. O governo teve que voltar atrás com o constrangimento de se mostrar desinformado. Não importamos um quilo de arroz para forçar a baixa dos preços.
– Hoje é exportador
O presidente não aprendeu a lição e esta semana ampliou o equívoco se metendo a dar aulas de economia doméstica à dona de casa com um discurso que embute uma taxa de certeza que nenhuma analista sênior de mercado rural tem.
Ele vai errar todas as vezes em que falar sobre o que acha que está certo sem ouvir os auxiliares mais preparados. Embora seja muito difícil que qualquer um deles tenha coragem cívica de numa reunião privada contrapor às opiniões equivocadas de Lula.
– Tudo é marketing
O presidente decidiu entregar seu destino político a um marqueteiro. É uma aposta muito alta. Porque os manuais de marketing estratégico advertem sem consistência do produto (ou do político), apenas a comunicação não dá conta. E a história está cheia de exemplos de desastres de produtos (e políticos) que não resistiram ao confronto dos fatos pelos consumidores.
Mas Lula acredita poder encantar o seu possível eleitor viajando pelo Brasil e contando suas histórias e ensinando suas lições. Tomara que acerte. E que, ao menos, corrija o discurso. Não pelo seu destino eleitoral em 2026. Mas pelo caminho que o Brasil precisará percorrer com ele até as próximas eleições. Um debate que ele próprio (com sua taxa de certeza sobre tudo de 110%) decidiu colocar na rua apostando tudo no marketing.
(*) Autor/Fonte: Fernando Castilho – Jornalista, titular da Coluna JC Negócios do JC
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Realmente a comunicação não tem sido o forte do governo. Foi-se o tempo no qual a reação da imprensa passava duas ou três vezes nos jornais e a reação popular ficava presa nos botecos. O presidente não entendeu ainda a época em que vivemos agora, com as redes sociais e seus desdobramentos.