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Artigo/Opinião: Armando aponta “défict de diálogo” na gestão política de Raquel Lyra (*)

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Armando aponta “défict de diálogo” na gestão política de Raquel Lyra

  • …o governo teve dificuldade, tem dificuldade no começo, porque ela teve que refazer toda a estrutura do governo depois de um longo ciclo do PSB. Nós tivemos 16 anos praticamente de governo do PSB. Para ela refazer essa estrutura, recrutar quadros… é difícil… 

Armando Monteiro Neto – ex-deputado federal, ex-senador e ex-ministro

O ex-ministro e ex-senador Armando Monteiro Neto, 72 anos, foi um dos principais apoiadores da governadora Raquel Lyra durante a vitoriosa campanha estadual, em 2022. Era praticamente um padrinho político da ex-prefeita de Caruaru. O empresário foi saindo de cena aos poucos, a ponto de deixar o PSDB e se filiar ao Podemos. A mudança de partido em novembro de 2023 o fez adotar uma posição independente em relação à Raquel.

Segundo Armando, a nova legenda o deixa em uma situação “mais confortável” para emitir opiniões sobre a gestão. Ele aponta dificuldades da governadora na relação com os deputados de Pernambuco: comenta o atrito dela com o presidente da Assembleia Legislativa, Álvaro Porto (PSDB). Diz ainda haver “necessidade” de Raquel melhorar a coordenação política de seu governo.

O ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também avalia que áreas como saúde e segurança pública precisam de “correções” e que há cobranças para Raquel fazer entregas com maior agilidade. Armando, no entanto, considera que a governadora “cuidou muito” das finanças e que o Estado passou a ter uma boa capacidade de investir.

Ele falou sobre o tema, nesta segunda-feira (3), em seu escritório no Recife.

O senhor saiu do PSDB para o Podemos aqui em Pernambuco. O senhor participou de forma ativa da campanha de Raquel Lyra. Houve um distanciamento. O que houve?

Eu estive com ela desde a origem. Eu fui apoiador de primeira hora. Isso todo mundo sabe em Pernambuco. O que houve, o que justificou a minha saída do PSDB é que depois da eleição, ela continuou na presidência do partido e como ela teve que dar prioridade às tarefas de governo, o partido ficou praticamente sem vida aqui. Só mais recentemente, até certo ponto em um período coincidente com a minha saída, é que houve uma reformulação.

Ela entendeu que deveria se afastar do partido e o partido começou a ter mais vida própria, uma atividade que não tinha durante o período. E como o Podemos é da base de apoio dela, eu não rompi com o governo. Eu fui para uma legenda amigável, mas fiquei com uma posição um pouco mais independente para poder emitir uma opinião, para poder fazer eventualmente uma crítica, uma sugestão, e me sentir mais confortável. O Podemos aqui é formado por alguns companheiros que sempre tiveram comigo, como o ex-deputado Ricardo Teobaldo.

O Podemos a nível nacional é um partido presidido por uma parlamentar muito hábil, que é a deputada Renata Abreu. Ele não se vincula muito a essa polarização extremada, ele não é bolsonarista nem é alinhado incondicionalmente do governo. Então, eu achei que era uma opção confortável do ponto de vista político.

Havia alguma expectativa de o senhor assumir o comando do PSDB em Pernambuco?

Não. Eu não quis aqui nem na época em que fizemos a Executiva. Eu era filiado e ajudei na construção do partido, mas eu não queria mais a condição de dirigente partidário. Fui dirigente do PTB há muito tempo.

Raquel costumava ouvir muito mais o senhor durante a campanha do que depois de assumir o governo?

Nós tivemos durante a campanha maior convivência porque a campanha, você sabe, tem uma dinâmica diferente da do governo, mas eu converso com frequência com ela.

Ela ainda ouve o senhor então?

Eu não sei se ela ouve (risos). Eu não posso lhe garantir. Já me perguntaram: ‘vocês conversam com que frequência?’ Todas as vezes que ela deseja conversar.

Quando foi a última vez?

Não faz muito tempo.

Foi conversa pessoal? Por telefone?

Eu faço tanto presencial –algumas vezes almoçamos– e outras vezes por telefone. Acho que há uns 10 dias eu falei com ela.

O que o senhor tem achado do governo Raquel? Porque se tinha uma expectativa muito grande na segurança pública, já que ela foi delegada. Em tese, seria uma área que ela realmente não poderia errar.

Eu gosto de dizer o seguinte: o governo teve dificuldade, tem dificuldade no começo, porque ela teve que refazer toda a estrutura do governo depois de um longo ciclo do PSB. Nós tivemos 16 anos praticamente de governo do PSB. Para ela refazer essa estrutura, recrutar quadros… é difícil. Você sabe disso. É muito difícil. Até formar o governo, muitas dificuldades existiram. Algumas áreas não tiveram desempenho desejado, mas algumas coisas muito importantes foram feitas na minha avaliação.

Ela cuidou muito da saúde das finanças públicas estaduais. O Estado está hoje com uma boa capacidade de investimento. Então, esse é um fato. Ela trouxe uma pessoa de fora que vem fazendo um trabalho positivo [em referência a Wilson de Paula, secretário da Fazenda de Pernambuco]. A área de Planejamento do governo também é boa.

Agora, precisa e está chegando o momento em que se cobram as entregas, maior agilidade. Há algumas dificuldades também na relação com a classe política, e isso se reflete naquelas tensões com a Assembleia. Dificuldades aí que eu acho que revelam a necessidade de uma melhor coordenação da área política do governo.

Sobre tensões: é curioso que o presidente da Assembleia, Álvaro Porto, é do partido dela. Ainda assim, ele se comporta muitas vezes mais até como oposição do que como governo.

Houve dificuldade nessa relação sem entrar no mérito aqui. Eu inclusive tenho uma relação muito boa com o deputado Álvaro Porto, foi nosso apoiador nas eleições para o governo, mas ocorreram dificuldades que a meu ver decorrem de um certo déficit de diálogo.

Mais da parte do Palácio do Campo das Princesas do que qualquer outra coisa.

Sim. Um certo déficit de diálogo aconteceu e um desempenho insuficiente na coordenação política do governo, claramente. Agora, eu continuo acreditando nela. Acho que o governo vai começar a fazer entregas importantes tanto na área social quanto na área de infraestrutura. Por exemplo: obras no sistema viário do Estado começam a ser deslanchadas.

Vamos fazer um programa habitacional vigoroso [em referência ao Morar Bem PE]. Um programa grande para os padrões regionais na área habitacional. O programa de creches, que é um programa que ela aposta, começa a deslanchar. O tal bilhete único na área metropolitana, alguns hospitais regionais que foram também… Começa agora a ter algumas entregas, mas isso não significa que não tenha que haver correções em algumas áreas muito sensíveis, e eu destacaria saúde e segurança.

(*) Autor/Fonte: Houldine Nascimento – Publicado no site Poder360


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