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Artigo/Opinião: Fome de quê? – Por Zezita Klimsa (*)

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Fome de quê?

Poor Indian children keeping their hands up and asking for support.

A Campanha da Fraternidade da Igreja Católica repete este ano o tema “Fraternidade e Fome” já vivido em 1985. Realizada anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante a Quaresma e desde 1962, tem por objetivo conscientizar a todos – na tentativa de buscar caminhos de solução -, para um determinado problema social que prejudica grande parcela da sociedade, como fome, violência, desemprego, analfabetismo, desigualdades, entre outros.

Trazer o tema fome, esse flagelo que se instalou em muitas geografias do mundo e continua dizimando tantas pessoas é, no mínimo, uma forma de nos acordar para essa cruel realidade. Um despertar senão da ignorância, mas da indiferença para um dos direitos básicos do ser humano, a subsistência.

A fome escancara causas que apontam, antes de tudo, para o egoísmo dos que têm mais condições e se bastam instalados na redoma da própria riqueza, sentados no trono do poder.

Senzalas, com outros nomes, estão saindo do anonimato. De dentro delas soa um grito surdo de fome por liberdade, por inclusão, por dignidade, por respeito.

A história nos tem mostrado o tamanho da importância do poder nas mãos dos seus detentores, os governantes, que a ele se agarram como tábua de salvação, e usam dos mais variados engenhos, ainda que ilegítimos, para não perdê-lo. A experiência tem sido clara como nas mãos de quem não sabe usá-lo, o poder corrompe.

Enquanto a temática fome nos toca a sensibilidade e nos mobiliza a fazer a nossa parte, ela também nos mostra o quanto somos impotentes face à extensão do quadro que os números estatísticos evidenciam. À espera de recursos da máquina pública, vamos nós, embora de forma acanhada, acatando o imperativo do Cristo no seu desejo de saciar a fome da multidão que o acompanhava: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.

Fome, tema rico. Ele nos abre um leque de olhares que vão além de um simples prato vazio à espera dos nutrientes de que necessita o físico. Há fomes outras escondidas no prato da alma. E a alma também carece de alimento, pois as fomes do espírito podem até minar o corpo material. A simbiose é perfeita.

Bem oportuno trazer o episódio em que Jesus, faminto no deserto, e ao ser tentado pelo Maligno, lhe responde: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”

A que tipo de fome se referia o Mestre?

Circular é a nossa relação com os outros. Temos tantas fomes. De aproximação, de escuta, de um olhar que não apenas nos veja, mas nos encontre e nos acolha. Fome de compreensão, do calor de um abraço fraterno, de um gesto de ternura, de uma mão que nos ampare. Fome de fraternidade, de gestos que nos falem de compaixão para com os nossos sofrimentos. Mas, em paralelo, temos fome de compartilhar alegrias, sucessos, pois eles nos ajudam a acreditar em nós mesmos. De solidariedade temos permanente fome, pois nos firmamos com o apoio do outro. Um sorriso iluminando a face pode saciar a fome de querer voltar a viver.

A maior de todas as fomes: a fome de Deus!

Recife, 03 de abril de 2023

(*) Autora: Maria José Torres Klimsa – Zezita é Pesqueirense, intelectual, revisora de textos, acadêmica da APLA – Academia Pesqueirense de Letras e Artes e emérita colaboradora do Blog Oabelhudo.

 


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