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Atualidades/Comportamento: O quanto a Saúde Mental afeta os Policiais Militares

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O quanto a Saúde Mental afeta os Policiais Militares

   Polícia Militar de Pernambuco tem média diária de 5 afastamentos por saúde mental. em 2022, 1920 PMs pediram afastamento para tratamento de saúde (*)

A pressão diária para combater a violência, associada à ansiedade e à sobrecarga de trabalho, tem relação direta com a multiplicação dos casos de adoecimento mental dos profissionais da segurança pública de todo o País. Em Pernambuco, a situação não é diferente.

 

Estatísticas obtidas pela coluna Segurança, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), revelam que a Polícia Militar de Pernambuco somou 1.920 afastamentos por saúde mental ao longo de 2022. A média diária é de cinco dispensas ou licenças médicas.

No Estado, as reclamações de policiais militares em relação ao excesso de trabalho são constantes. Eles dizem que, por causa do baixo efetivo, muitas vezes são obrigados a aderir ao Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES) e precisam dar dar plantões extras em dias de folga. Sob ameaças de punições e até de transferências para outras cidades, eles acabam aceitando trabalhar mais e descansar menos.

“A tropa está cansada. Mesmo de folga aos domingos, deixo de ficar com meu filho para dar plantão porque me colocam na escala. O dinheiro da jornada extra acabo tendo que pagar uma babá para ficar com ele. Não compensa e só traz mais estresse. Na folga, o policial quer descansar”, relatou um PM lotado em um batalhão da capital.

A saúde mental, e consequentemente a segurança do efetivo, ganhou mais atenção do Comando Geral da Polícia Militar após uma tragédia registrada na manhã do dia 20 de dezembro de 2022.

O soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, matou a tiros a companheira, Cláudia Gleice da Silva, 33, que estava grávida, no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. A investigação apontou que ele não aceitava o fim do relacionamento.

Após o feminicídio, ele rendeu um motorista de aplicativo e o obrigou, com uma arma de fogo, a levá-lo até o 19º Batalhão da PM, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. No caminho, em áudios enviados a amigos e familiares, falou em vingança.

Quando chegou ao batalhão, o soldado atirou em quatro colegas de farda. Dois deles morreram. Depois ele cometeu suicídio.

A investigação realizada pela Polícia Militar não esclareceu o que levou o soldado a atacar outros policiais, mas depoimentos indicaram que o comportamento dele – com possíveis sinais de adoecimento mental – já chamava a atenção de outros colegas.

Mais de 25% do efetivo passou por atendimento psiquiátrico em 2022

O levantamento sobre saúde mental na Polícia Militar de Pernambuco, encaminhado por meio da LAI, também indicou que 4.454 profissionais buscaram atendimento psiquiátrico no ano passado.

Levando-se em consideração que o efetivo total da corporação é de pouco mais de 16 mil homens e mulheres, isso significa que pelo menos um em cada quatro PMs sentiu a necessidade de pedir ajuda para a saúde mental.

Além disso, 1.310 militares também se consultaram com psicólogos no ano passado.

O número, apesar de alto, é subnotificado. Isso porque, segundo os próprios policiais, muitos ainda resistem em procurar ajuda.

“A formação do policial estimula o ‘mito do herói’, o que torna difícil que seu consciente admita que precisa de ajuda. Muitos também têm medo de serem afastados do trabalho e terem os salários reduzidos. Há ainda o receio da repercussão negativa de um diagnóstico psiquiátrico, como o preconceito e o estigma”, explicou a psiquiatra Josany Alves.

Alguns policiais até conseguem reconhecer seus sintomas, mas consideram que procurar ajuda profissional ou ter que tomar remédios é sinal de fraqueza e acreditam que podem curar a si mesmos. É bastante comum, nesses casos, a busca do alívio do sofrimento no uso de álcool ou drogas ilícitas”, completou.

Três meses depois do episódio trágico no 19º Batalhão, a Polícia Militar de Pernambuco inaugurou um núcleo, na área central do Recife, para atendimento psicológico e de casos emergenciais envolvendo esses profissionais da segurança. A unidade, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, está localizada na Rua Coronel Silva Torres, nº 73, no bairro do Derby.

No mês passado, a corporação também passou a disponibilizar o serviço de atendimento psicológico on-line. Com o novo serviço, até 375 policiais militares podem ser atendidos por semana – sendo 75 no formato remoto. A marcação de consultas deve ser feita pelo site da corporação: pm.pe.gov.br.

O comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco, coronel Tibério César, também prevê mais ações para evitar que tragédias como a que ocorreu no 19º Batalhão se repitam.

“A partir do próximo mês (agosto), cada batalhão terá um policial militar com uma visão mais social e assistencial. Ele vai observar comportamentos estranhos, depressivos, e fará o contato com o núcleo de saúde mental para que esse PM seja convidado a participar de uma terapia, fazer parte de uma escuta”, afirmou o comandante.

“Desta forma, vamos identificar dentro dos batalhões aquele policial que às vezes nem sabe que está passando por alguma dificuldade nessa área emocional e vamos ajudá-lo”, completou.

No primeiro semestre de 2023, o número de atendimentos e de licenças médicas na Polícia Militar do Estado permaneceu em patamar semelhante à média do ano passado.

Entre janeiro e junho, 2.013 PMs procuraram ajuda psiquiátrica e 659 passaram por consultas com psicólogos.

Além disso, 1051 afastamentos das atividades foram contabilizados pela corporação neste ano.

“As queixas mais frequentes em consultas psiquiátricas são de sintomas depressivos, como as crises de ansiedade, prejuízos na atenção ou concentração e insônia. Existem sinais que podem indicar adoecimento mental e que podem ser percebidos pelas pessoas ao seu redor, como a irritabilidade, alterações de humor, sono ou apetite. A perda de interesse e prazer para realizar atividades de que antes gostava também é um alerta”, explicou a psiquiatra Josany Alves.

“É importante salientar que, conforme a intensidade ou gravidade dos sintomas e comprometimento no desempenho do policial na sua função, o mesmo poderá ser afastado do exercício da profissão, a fim de que haja pleno restabelecimento da sua saúde mental, a fim de que não haja situação de risco para si ou para outros”, comentou.

No ano passado, quatro PMs precisaram de atendimento psiquiátrico de urgência. 

Fonte: site do JC (Coluna Ronda JC)


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