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Entrevista
Cláudio Humberto: Jogo mudou e Lula demora a perceber
- Jornalista estreia no Jornal Folha de Pernambuco na próxima quinta-feira, 1º de junho
O jornalista Cláudio Humberto reestreia, a partir da próxima quinta-feira, sua coluna diária na Folha de Pernambuco. O leitor vai poder encontrar informações dos bastidores da política e a antecipação de fatos relevantes do cenário nacional.
Nesta entrevista, o colunista fala sobre o início da sua carreira e a inspiração que seu pai, também jornalista, exerceu na escolha da profissão. Também analisa a tumultuada relação entre os Três Poderes, a possibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro se tornar inelegível, as dificuldades do Governo Lula e os efeitos da polarização que toma o País.
O que o leitor vai encontrar sobre o cenário político na sua coluna?
Encontrará informações de bastidores, como sempre, antecipação de fatos, tratamento desassombrado dos assuntos e a certeza de que o colunista está a serviço da notícia, portanto, do leitor.
Como você começou a carreira jornalística?
Meu pai foi a inspiração. Era jornalista, um homem decente, intelectual brilhante, à frente do seu tempo. Escrevia muito bem. Eu queria ser como ele. Comecei cedo, ainda muito novo, e fiz de tudo na profissão, dentro e fora das redações, no período em que fui assessor de imprensa.
Como a cobertura política passou a fazer parte da sua trajetória?
Política sempre fez parte da minha vida desde criança. Meu pai era ativista de esquerda, era voz ativa em casa com suas análises políticas, e durante muitos anos fomos vizinhos e amigos de Sandoval Caju, ex-prefeito muito popular em Maceió. Os dois papeavam quase todos os dias e eu passava horas ouvindo a conversa. Eles mostravam a vida como ela é, na política. Amadureci com a ideia de contar isso às pessoas.
O que dizer sobre a relação entre o Supremo Tribunal Federal e a gestão Bolsonaro?
Relação muito tumultuada. Estava escrito que o ex-presidente perderia essa arenga, ninguém vence briga esmurrando ponta de faca. Foi o que ele fez. Não sairia barato, e não está saindo. A rebordosa contra ele e apoiadores está apenas no começo.
Você acha que o ex-presidente Bolsonaro pode se tornar inelegível?
A inelegibilidade é dada como certa, em Brasília, em qualquer roda de conversa de pessoas que de fato são importantes. E pode não ser o fim dessa desforra.
Como avalia a relação entre os Três Poderes hoje?
Dias atrás entrevistei o presidente da Câmara, Arthur Lira, certamente o mais pragmático dos ocupantes de cargos relevantes nos Três Poderes. Nessa entrevista, ele defendeu a “autocontenção” dos Poderes, cada um no seu quadrado, até para evitar uma “solução legislativa” para limitar os ímpetos autoritários de ministros do STF ou de integrantes de outro Poder.
A eleição presidencial de 2026 pode repetir uma polarização?
Não tenho a menor dúvida. O ódio permanece e tem sido reiterado diariamente. Nos quatro primeiros meses de governo, Lula atacava Bolsonaro diariamente. Bobagem, ele venceu a eleição. Lula é melhor que isso. Sem contar que tanto ressentimento faz mal à saúde. Se a eleição fosse hoje, o Brasil teria Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, disputando a presidência. Mas ainda há muita coisa pra rolar até 2026.
O que precisaria acontecer para o Brasil sair dessa polarização?
Talvez uma nova eleição, com personagens diferentes, que assumam compromisso em promover a paz nas ruas, nas famílias, no trabalho. Não é fácil materializar o espírito da coisa, mas, quem souber fazer isso, vencerá a eleição. Quem souber empolgar os brasileiros nessa causa, inclusive nas redes sociais, sem a censura que pretendem impor, terá uma grande vantagem.
O que esperar sobre o futuro da Operação Lava Jato?
Após uma fase em que avalizou a Lava Jato, deixando a Justiça em lua-de-mel com a população, o STF mudou de atitude e passou a desqualificar a operação e praticamente a matou, com tantas anulações e descondenações. Apesar da roubalheira escrachada, com réus confessos, provas robustas e mais de R$ 12 bilhões devolvidos pelos ladrões, tenta-se consolidar a mentira de que nada daquilo ocorreu.
Iniciativas como a CPI do Abuso de Autoridade podem ter vez?
Essa CPI ganhou muita força após a cassação de Deltan Dallagnol. Um documento de apoio conseguiu impressionantes 500 mil assinaturas em uma semana. E já endossam a CPI 147 de 171 deputados necessários. Deltan não é o deputado mais querido da Câmara, até porque investigou muitos deles, mas ficou a impressão de que o TSE catou cabelo em ovo para cassar o mandato.
As dificuldades de Lula em formar uma base governista dão protagonismo ao Congresso?
A questão é que mudou o jogo e o presidente Lula demora a perceber. Muitos ainda não notaram que a lógica de “base governista” se aplica cada vez menos. Nos seus primeiros governos, Lula adquiriu apoio parlamentar com o suborno disfarçado de emendas e com as malas de dinheiro do mensalão. Ou no toma-lá-dá-cá dos cargos. Hoje, os parlamentares não querem ou não precisam mais disso.
Como isso funciona atualmente?
O Planalto não tem mais o poder de dar acesso dos cofres públicos a deputados e senadores, eles já o têm. E por meio de emendas impositivas e orçamento secreto, por exemplo. Uma ministra me contou que nunca tinha vivido a situação, agora corriqueira, de receber ofício do presidente do Senado ou da Câmara ou de qualquer preposto determinando a liberação de recursos de emendas para esse ou aquele parlamentar. E o ministro é obrigado a obedecer a uma ordem de outro Poder.
E apoio ao governo por cargos?
Ainda tem gente que valoriza isso. Lula, que está desatualizado, já cansou de oferecer cargos para formar a tal “base”, mas hoje a maior parte quer distância do controle sobre órgãos públicos. Temem que seus indicados façam bobagem ou façam mal e depois os entreguem. Têm pavor de Polícia Federal na porta às seis da manhã. Isso os fez aprovar o Fundo Partidário, mais de R$ 1 bilhão por ano para manter os partidos, e o Fundo Eleitoral, que nos custou quase R$ 6 bilhões na última eleição. O objetivo é o mesmo: usar dinheiro público para financiar suas campanhas, dispensando empreiteiras e outros fornecedores do Governo, como uma propina antecipada. Perceberam que só precisam aprovar leis que lhes garantam a chave do cofre. Cargo para quê? Para dizer que tem prestígio no Governo? Isso está cada vez mais em desuso.
Fonte: site do Blog da Folha.