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Ao iniciarmos hoje um novo ciclo, com a chegada do primeiro dia de 2021, é impossível não refletir sobre os sonhos e projetos que nos foram abruptamente tirados ao longo de 2020. Planos dos mais diversos, no campo pessoal ou profissional, ficaram suspensos ou foram urgentemente trocados – até mesmo por questão de sobrevivência em uma sociedade tão diversa e desigual social e economicamente como a nossa. Todos vivenciaram e ainda vivenciam o mar com tempestade, mas em barcos diferentes, como se disse tantas vezes. Os aprendizados do ano e que devem ser levados para o futuro são referências individuais, a depender do olhar e da realidade de cada um. Dessa “tempestade”, escolhi trazer comigo para 2021 a capacidade de união das pessoas no intuito de ajudar os mais próximos. Assistimos ao crescimento do desemprego e o fechamento de empresas sem lastro para passarem tanto tempo sem gerar receita. Por outro lado, presenciamos a solidariedade partindo de pessoas, instituições e empresas. Muitas delas estreantes nessa postura que torço para ser mais constante. Diante de um poder público atônito com a problemática que se instalava e que só crescia a cada mês, a comunidade olhou ao seu redor e ajudou. Ouso dizer que muitas vidas foram salvas graças a tanta mobilização social. Doação de refeições pequenas ou toneladas de alimentos, cada um com sua possibilidade ajudou aqueles que viviam do seu trabalho e que, de uma hora para outra, ficaram sem nada, sem qualquer possibilidade de renda. Quero trazer para 2021osentimento de equipe e apoio que cresceu nas empresas. O sentido de união das famílias que, mesmo distantes para evitar ainda mais a proliferação do vírus e proteger os entes de mais idade, estiveram emocionalmente mais próximas. Sentiram mais falta do abraço e, provavelmente, vão valorizar esse gesto tão simples num futuro próximo. Fomos testados também na nossa competência em nos reinventar e mudar o foco, acelerando projetos, inovando, recuando em outros, mas colocando em prática a capacidade resolutiva para cada um dos problemas que surgiram no caminho. Do ponto de vista econômico, temos desafios gigantes pela frente. O Brasil – que está entre os 10 países do mundo em desigualdade social deve registrar queda na renda das famílias das classes média e das mais baixas nos próximos meses. Ou seja, vamos ampliar nossas diferenças sociais. Aliás, a diferença de renda e condições de moradia foram evidenciadas na pandemia. Era algo que todos nós sabíamos, mas que ficou ainda mais gritante nos meses que se passaram. O emprego, ou melhor, a falta dele que hoje já aflige cerca de 14 milhões de brasileiros, será um dos grandes desafios. Com recuperação lenta e gradual, o mercado de trabalho será incapaz de gerar oportunidades e compensar a ausência do auxílio emergencial que chegou a injetar na economia mais de R$ 250 bilhões em 2020, salvando muitos dos que ficaram sem renda. Como término do benefício, vamos começar a sentir de forma mais latente, penosa e dura a perda da renda das famílias. Já há estudos que indicam que tal perda será ainda maior nas classes D e E. E, claro, todo o seu efeito na vida pessoal e na dinâmica econômica. Nossa capacidade de nos reerguer será colocada novamente à prova. As novas gestões municipais iniciam hoje como desafio e obrigação moral de tornar a administração mais racional. Cada vez será menos tolerada a perda de recursos, já tão escassos. Inchado de cargos comissionados e com baixa capacidade de geração de empregos de acesso mais democrático, o Poder Público precisa atuar junto à iniciativa privada, estimulando novos investimentos e sua consequente geração de oportunidades.

Não se espera das prefeituras de grandes capitais, por exemplo, placas de “emprego” na porta. Espera-se ações estruturadoras que busquem no empresariado a abertura de vagas. Mostrar segurança jurídica ainda é um dos grandes desafios brasileiros para que empresas mantenham seus aportes, mesmo em meio a tantas incertezas de outras naturezas, como oferta, demanda, composição de preço. Mas todo recomeço nos traz esperança. É a força de vontade de seguir em frente, colocando em prática as lições que a trajetória nos ensina, que nos mantém de pé buscando acertar mais do que errar. Iniciamos nossa nova jornada tendo fé em uma sociedade que, queira Deus, siga mais solidária de agora em diante. E acreditando na nossa própria capacidade de nos refazer das perdas e olhar para o futuro que nos aguarda e que será construído, em grande parte, por nossas decisões e vontade de fazer acontecer.

(*) Autor e Fonte: João Carlos Paes Mendonça é presidente do Grupo JCPM e do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação – Publicado no JC de 01 de janeiro de 2021.


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