Artigo/Opinião: Pesqueira, um doce de cidade (*)
Pesqueira, um doce de cidade, por Silvio Amorim (*)
– Da varanda do dormitório, de dez internos, no segundo andar, podia ver o movimento de caminhões subindo e descendo a ladeira dos Corrreios, carregados de tomate, goiaba, banana, abacaxi, entre outras frutas para serem industrializadas em várias fábricas do município.
– Pesqueira é uma das cidades de Pernambuco polo de região e tem um bonito desenho urbanístico. Na minha época de criança, as famílias tinham por hábito colocar filhos em colégios internos no interior ou, na cidade onde moravam, em semi-internato.
Tinha 12 anos quando fui para o Colégio Cristo Rei, dirigido pelo Pe. Lira, ao lado do Seminário São José, do qual era Reitor o Pe. José Vanildo Cordeiro Leite, sendo ambas as instituições pertencentes à Diocese de Pesqueira.
Paisagem
Era um cenário bucólico, com direito a pontezinha e riacho. A cidade de então vivia uma efervescência econômica e cultural. Da varanda do dormitório, de dez internos, no segundo andar, podia ver o movimento de caminhões subindo e descendo a ladeira dos Corrreios, carregados de tomate, goiaba, banana, abacaxi, entre outras frutas para serem industrializadas em várias fábricas do município. Fábrica Peixe, Fábrica Rosa, Fábrica Tigre e outras menores. Ao passar em frente à Fábrica Peixe, via montes de miolos de abacaxi, para serem descartados, e que eu não passava sem consumir alguns, ali mesmo na calçada.
Nova Era
Eu fazia o “admissão” para o ginasial, em sala no Seminário com a memorável professora Odete Marinho Andrade, que ainda tinha uma coluna num jornal semanal, “Jornal Nova Era”. Lembro-me de como fiquei orgulhoso, quando vi, pela primeira vez, meu nome impresso dando conta do meu aniversário.
Amigos
Lembro de amigos da época: Hamilton Didier, Jaime (que trabalhou no Bandepe), Paulo Meira, médico (que foi dragado brutalmente pela violência que vivemos), José Carlos Morcourt, Zélia (por quem eu era apaixonado), Eduardo Tigre (sempre andando a cavalo) e tantos outros.
A banda
O Colégio tinha uma banda, “Estudantes em Hi-Fi do Colégio Cristo Rei”.
Tocava em festas religiosas de rua, no Clube dos 50 e no Radicais. Eu tinha uma voz que fazia agudos sem desafinar e cantava os sucessos musicais, “La Bamba”, do americano Ritchie Valens, e “Dateme um Martello”, cantada pela italiana Rita Pavone. Dessa forma, cantando na banda, rodava a cidade e os distritos.
Certa vez, indo com a banda cantar à noite na festa da padroeira do distrito de Cimbres, com o ônibus quebrado ao término da apresentação, voltamos a pé
15 km até Pesqueira.
Não foi dessa vez
De outra vez, a banda recebeu a visita de produtores de um programa de auditório para jovens da TV Jornal do Commercio, Canal 2. Em uma noite eles foram à “zona” ou “baixo meretrício” de Pesqueira e resolveram me levar. Lembro que era um lugar modesto, rua esburacada com poças de água, mas animado, em um salão com música, o pessoal bebendo e dançando. Não entendia bem o que se passava. No outro dia o Padre Lira descobriu. Imaginem uma confusão… Aí eu soube exatamente a que se propunha o lugar, mas já era tarde…
Paradiso
A Diocese tinha um cinema em frente ao Colégio Cristo Rei, onde eu não só tinha entrada franca, mas também ia para a cabine de projeção ajudar a rebobinar o rolo da película e ficar regulando a luz de projeção, uma espécie de palito de solda que emitia uma potente luz. Se o rolo da película travasse, o quadro da vez era queimado de imediato e assistido pela plateia. Vejo-me, na belíssima produção do filme Cinema Paradiso (1988), de Guiseppe Tornatore.
A mesma praça
A Praça Dom José Lopes, com sua Catedral de Santa Águeda, era o lugar preferido para o passeio e encontros nos finais de semana, e todos ficavam a circundá-la. É naquele cotidiano de cidade do interior onde os reais valores da vida prevalecem e afloram com vigor. Penso que havia muita felicidade nas pessoas que viviam em Pesqueira.
(*) Autor/Fonte: Silvio Amorim, Membro do IAHGP, advogado, foi Delegado do MEC em Pernambuco e assessor do senador Marco Maciel.
Linda crônica, Silvio ! Tempos bons , os de outrora. Muita conexão entre alunas do Santa Dorotéia e alunos do Cristo Rei , além dos seminaristas. Fiquei feliz , ao ouvi-lo citar meu.nome , muito interessante. Há um tempo , soube da sua vinda a Pesqueira , para a homenagem a Paulo Diniz , um amigo me falou de você, que perguntou por mim , a ele.
Parabéns, pela crônica, linda e muito saudosa.
Foi uma alegria ouvi-lo e revê -lo , através deste seu interessante texto. Um abraço!
Essa Pesqueira não existe mais. Hoje é uma cidade sem progresso e violenta.
Emocionada ao ler a crônica de Silvio Amorim. Uma viagem ao passado de Pesqueira e meu. Entristeceu-me por constatar que no passado ficaram os melhores dias da amada cidade.
Sílvio que alegria ,coração palpitante ao ler sua tão nostálgica e emociona-te crônica.Gratidão.
Sou Ângela Guimarães neta de Anália Guimarães e Sr Tôtô que moravam na Rua Dr.Lídio Paraíba,75 em frente a casa do juiz Dr …pessoa ilustre da cidade(jamais esquecerei este endereço).
Passava minhas férias escolares nesta cidade maravilhosa da qual tenho lindas lembranças.
Decepção ao passar por ela hoje e vê-la tão diferente.
Não existe mas as fábricas Rosa e Peixe,o centro é só comércio,não vemos mais residências,como fiquei triste .