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Sanharó: . a ex grande bacia leiteira do estado. Hoje, apenas um arremedo

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Sanharó: a ex grande bacia leiteira do estado. Hoje, apenas um arremedo

Em Sanharó havia uma máxima: quem não é dos Leite, vive do leite…

Transcrevemos abaixo, um denso e importante artigo da lavra do jornalista e blogueiro Magno Martins. O texto faz uma viagem do que já foi o município à época da empresa Laticínios Sanharó S/A – LASA, de onde saiu o primeiro leite pasteurizado e embalado à vácuo no estado de Pernambuco. Foi o sonho concretizado de Gilberto Guimarães Batista e Cloves Américo de Freitas, coadjuvados por José Laci e Heriberto, filhos de Cloves e Gercino Guimarães, irmão de Gilberto, desbravaram o Recife, implantando ali, o nome da Sanharó, ainda hoje citada como a “Terra do Queijo”… O Pólo do Queijo –  o galope do tempo fez ressurgir o nome do município no cenário pernambucano, quando o atual prefeito – César Freitas, implantou uma infraestrutura e estimulou a abertura de negócios no ramo de laticínios e gastronomia ao lado da BR 232, que corta o município, tornando-o o maior pólo de negócios nessa atividade em Pernambuco.

De maior bacia leiteira do Estado, só a foto na parede.(*)

No passado – e lá se vão mais de 40 anos – Sanharó, a 199 km do Recife, era uma ilha de prosperidade em pleno semiárido pernambucano, vista como a maior bacia leiteira do Estado, uma das maiores do Nordeste. Olhando em direção aos seus vastos campos férteis, a vista não conseguia alcançar tanta vaca pastoreando para no dia seguinte, na ordenha, suas tetas jorrarem leite, o ouro branco que enriquecia sua gente trabalhadora.

“Sanharó era tão gigante que a população animal era maior do que a humana”, lembra o ex-prefeito Geovane Freitas, que deixou sua terra natal para trás depois de passar no teste da vida pública e migrar para o Recife em busca de outros campos. Como bom executivo, nunca lhe faltou emprego em outros eldorados. Em sua terra, entretanto, o tempo, a falta de uma política governamental e as secas periódicas tiraram os empregos de milhares de conterrâneos, que apostavam o último centavo da coroa do rei numa atividade que parecia converter leite em cristal precioso.

Em sua fase áurea, hoje apenas um retrato dolorido na parede, como diria Drummond, Sanharó se agarrou à pecuária como uma tábua de salvação. Bateu até Garanhuns em produção de leite. Sediou uma grande empresa de laticínios privada que, mais tarde, virou uma estatal mista, a Cilpe, geradora de emprego e renda. Das suas fazendas, saia leite até para outros Estados, como Alagoas e Paraíba.

Chegou a produzir entre 50 a 60 mil litros de leite por dia. Hoje, não chega à metade disso. De líder imbatível entre os municípios da bacia leiteira se transformou no patinho feio, um anão. Filho de pecuarista, tendo dado sequência há muito tempo a atividade do pai, o prefeito César Freitas (PCdoB) praticamente abandonou a produção de leite. “Papai já foi um dos maiores fazendeiros de Sanharó, mas a seca, o aumento da ração e os baixos preços do litro do leite nos forçaram a abandonar o mercado”, diz César.

Diferente do prefeito, Evanildo Valença ainda insiste em quebrar cabeça para se manter ativo na produção de leite. De sua fazenda São Sebastião, a 2 km do centro da cidade, saiam quase três mil litros de leite por dia, enquanto hoje essa produção é 50% menor. Ele não abastece as queijarias do município, como a maioria dos concorrentes. Tudo que produz vai direto para a sua própria unidade de produção de queijo e manteiga que comercializa na Carne e Queijo, umas das principais lojas que exploram os derivados do ouro branco no centro comercial, às margens da BR-232.

A freguesia é formada por passageiros do vai e vem incessante do Recife ao Sertão e do Sertão ao Recife. São dezenas de pontos comerciais que vendem de tudo. A área ganhou estrutura e cara de comércio na segunda gestão de César, que está no terceiro mandato. Para identificar Sanharó como terra do leite, na praça em frente ao minishopping da cidade o prefeito ergueu um monumento impossível de não ser visto e apreciado por quem trafega pela BR, exibindo um leiteiro tirando leite das tetas de uma vaca.

Da fábrica artesanal de Valença saem, diariamente, 300 quilos de queijo de manteiga, coalho e provolone, além de manteiga de garrafa. “O que nos desestimula são os preços de ração. Antes, a gente pagava R$ 30 por uma saca de farelo de milho com 40 quilos. Hoje, pagamos R$ 80. Já o farelo de soja subiu de R$ 70 para R$ 135, enquanto o preço do litro de leite é de apenas R$ 2”, diz ele.

Presidente da Câmara de Vereadores, Rodrigo Didier (PCdoB) também ainda está ralando no campo. Já chegou a ter 200 vacas em produção, produzindo 2,2 mil litros de leite por dia. Seu plantel foi reduzido para 60 vacas e a produção caiu para mil litros/dia. “Está impossível sobreviver da atividade”, reclama o parlamentar. Como ele, o também vereador Luciano Fernandes (PSB) produz leite nas mesmas condições adversas, com plantel pela metade, como a maioria dos pecuaristas.

“Além da seca e da falta de uma política governamental capaz de incentivar a atividade, no caso de Sanharó há outro fator cultural que explica a sua decadência. “Os grandes produtores não fizeram seus sucessores. Os que vieram para cá enviaram seus filhos para estudar nas grandes cidades, como Recife e estes, seguramente, tomaram rumo diferente na vida. A pecuária, principalmente a atividade leiteira, exige dedicação total”, diz o consultor Paulo Muniz, do blog O Abelhudo, que conhece como ninguém a vida econômica, política e social da região.

EFEITOS DA PANDEMIA

Na pandemia, os produtores de leite de Pernambuco penaram. Com a alta dos preços dos grãos como a soja e o milho, que servem de ração animal para as vacas e com a diminuição do valor do leite, a bacia leiteira agoniza. No Estado, 60 mil produtores são responsáveis pela produção de cerca de 2,3 milhões de litros de leite por dia, envolvendo 27 municípios integram a bacia leiteira, maioria no Agreste Meridional e no Sertão do Araripe, onde são produzidos queijos como o coalho, manteiga, muçarela e doce de leite.

Já o rebanho bovino é de 2,1 milhões, com 67 estabelecimentos lácteos registrados, sendo uma granja leiteira, nove usinas de beneficiamento de leite, 15 fábricas de laticínios e 42 queijarias artesanais, além de outras 74 em processo de formalização. Conforme o presidente do Sindicato dos Produtores de leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, os custos da produção leiteira aumentam diariamente, enquanto as indústrias não compram o suficiente para suprir as necessidades dos produtores.

“A situação da bacia leiteira está semelhante com a agricultura, com alto custo da produção, devido ao aumento dos grãos como a soja e o milho, que tiveram um aumento de mais de 100%. Além disso, o produtor de leite teve uma redução de, em média, 30 centavos no litro do leite. Os custos de produção aumentaram e nós recebemos em média 30 centavos por litro de leite a menos da indústria. Nossos custos diariamente aumentam. Esperamos a contrapartida da indústria, para ela comprar mais em Pernambuco e não precise sair para comprar leite em outros Estados, porque temos produção suficiente para vender”, desabafa Malta.

Já o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite-PE), Alex de Oliveira, diz que o aumento do preço dos grãos é o maior problema da atividade. Segundo ele, muitos produtores estão vendendo os seus animais para abate para conseguirem renda. “A situação hoje da bacia leiteira de Pernambuco é muito ruim, não é porque tenha reduzido a quantidade de leite, a quantidade continua igual, os produtores continuam produzindo. O problema está na ração animal, sendo o que as vacas precisam para se manter e produzir leite. A soja que era R$ 80,00 reais o saco, passou agora para R$180,00, o milho que era em torno de R$ 45,00 está hoje sendo vendido por R$ 100,00. O preço do leite que o produtor recebe não compensa o aumento da ração. Às vezes, o produtor prefere vender as suas vacas para abate, porque o preço da carne está muito alto, em torno de R$ 300,00”, destaca Alex.

“O problema está sendo o consumo, o povo está sem dinheiro para consumir. É necessário resolver o problema à nível federal, melhorar a economia do país como um todo. Proibir importação seria um meio, fazendo com que o leite daqui suba e o mercado local tenha como absorver mais leite do produtor, mas isso entra em outros problemas, como o Mercosul, com os acordos comerciais. Realmente, estamos sem saída. É aguardar que a economia melhore para o produtor manter o plantel”, acrescentou.

VISÃO DO GOVERNO

Já o secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, Claudiano Martins Filho, afirma que o fechamento temporário dos estabelecimentos, o aumento do custo de produção e a redução da renda dos brasileiros afetam diretamente a produção de leite no Estado. “Assim como todos os setores, a bacia leiteira também enfrenta dificuldades devido à pandemia da Covid-19. Infelizmente, tivemos queda da demanda por laticínios, sendo impactada pelo fechamento temporário de bares, restaurantes, hotéis e similares. Tivemos também o aumento no custo de produção, o preço dos grãos subiu e consequentemente dificultou a compra por parte dos produtores. A redução da renda dos brasileiros também afetou no desenvolvimento do setor, mas acredito que isso tudo é passageiro e estamos dando total apoio no consumo dos produtos feitos no Estado”, disse.

Na tentativa de auxiliar os produtores da bacia leiteira de Pernambuco, o Governo do Estado, segundo o secretário, promove algumas ações, como o Programa Leite de Todos, que atende 183 municípios pernambucanos, através de cinco cooperativas e duas associações de produtores de leite. São adquiridos leite dos três mil produtores do Pronaf, que possuem uma produção de até 35 litros por dia; a Linha de crédito no Banco do Brasil e no Banco do Nordeste com o Programa Agroamigo, de Micro finança Rural para os laticínios e produtores; e a capacitação dos produtores através do Instituto Agronômico de Pernambuco realiza, além da emissão de um Laudo de Aptidão ao Selo Arde, que permite a comercialização do doce de leite, da manteiga de garrafa, do queijo manteiga e do queijo coalho, dentro do território nacional.

(*) Autor e Fonte: Jornalista e blogueiro Magno Martins – Publicado originalmente, no blogdomagno


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