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A história do marcante Carnaval de 1919, o primeiro após a pandemia da gripe espanhola

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Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), navios vindos da Europa trouxeram, junto aos passageiros, a gripe espanhola, causada por um subtipo do vírus influenza e que marcaria a história moderna como a pior pandemia antes da chegada da covid-19.

“No mundo, a gripe espanhola pode ter matado 50 milhões de pessoas, muito mais do que a Primeira Guerra Mundial”, diz Maria Cecília Barreto Amorim Pilla, professora do curso de História da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

Já no Brasil, estima-se que as mortes causadas pela pandemia possam ter chegado a 35 mil. O Estado que mais sofreu foi o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, onde morreram cerca de 15 mil pessoas.

  • *Este texto foi publicado originalmente em abril de 2022 e republicado com atualizações em fevereiro de 2023

Assim como vimos desde 2020, hospitais ficaram lotados e grandes eventos como campeonatos de futebol foram cancelados. Carnaval, então, nem pensar.

Mas quando o ano de 1918 terminou, aqueles que sobreviveram já haviam criado imunidade contra a doença, e aos poucos, os casos foram diminuindo.

Foi chegada a hora de “tirar o atraso” e celebrar tudo que não havia sido possível nos anos anteriores – pelas chuvas que marcaram o Carnaval de 1916 e 1917, pela crise econômica e clima de guerra em 1918, e principalmente pela doença que tirou tantas vidas.

Neste 2023, estamos diante de uma transição parecida: embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda classifique que estamos em uma pandemia, com a queda brusca no número de mortes e casos da doença após a vacinação contra a covid-19, diversas cidades brasileiras estão tendo o primeiro carnaval oficial desde que o coronavírus apareceu.

Se tomarmos 1919 como exemplo, é bom lembrar de como o escritor Ruy Castro definiu a festa que começou no primeiro dia de março: foi “a grande desforra contra a peste que dizimara a cidade”.

Uma estimativa feita pelo jornal A Noite à época apontava que o Carnaval de 1919 levou cerca de 400 mil pessoas ao Centro do Rio de Janeiro.

“Hoje sabemos que a ‘Espanhola’ foi embora em fins de novembro daquele ano e não voltou. Mas eles, que a viveram, não sabiam se ela voltaria ou não – o Carnaval de 1919 podia ser o seu último. Era uma atmosfera de fim do mundo. O negócio então era aproveitar ao máximo”, disse Ruy Castro em entrevista à BBC em julho de 2020.

Dias de festa com lembrança da peste

Em 1919, os blocos carnavalescos de rua como conhecemos hoje ainda não existiam. Mas grandes grupos chamados de sociedades, — que eram estabelecidos geralmente pela elite, mas com grande acompanhamento popular— levavam milhares de pessoas às ruas, principalmente na capital, o Rio de Janeiro.

Diferentes também das grandes escolas de samba atuais, as sociedades não adotavam um tema único para as apresentações, mas desfilavam diferentes histórias, não necessariamente conectadas umas as outras. Entre os temas dos desfiles, alguns dos grupos adotaram a memória dolorosa da peste como sátira.

A maior sociedade da época, chamada de Democráticos, fez um carro alegórico com uma grande xícara, e nela estava escrito ‘chá da meia-noite'”, diz Pilla.

Fonte: site BBCBrasil – Com colaboração de Ligia Guimarães


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