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Não se relativiza o mal para encaixá-lo na mesquinhez das discussões ideológicas

Há um aspecto que pouco se comenta quando se faz a defesa da Palestina no conflito com Israel e diz muito, embora não seja o único fator, sobre a animosidade entre os dois lados: um jogo duplo da Inglaterra na Primeira Guerra e o apoio da Palestina a Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Com Hitler

Sim, os palestinos ficaram ao lado da Alemanha na Segunda Guerra. Amin al-Husayni, maior líder da palestina na época, ofereceu apoio ao fuhrer alemão com o argumento de que tinham inimigos comuns: ingleses, judeus e comunistas.

Os palestinos, junto com outros países árabes estabelecidos, forneceram soldados para o nazismo num acordo que incluía a criação e autonomia do Estado Palestino “quando a Alemanha vencesse”.

O motivo para ter a Inglaterra como inimiga era antigo, vinha da guerra anterior.

Acordo secreto

A Inglaterra havia feito um acordo secreto com a França em 1916, antes mesmo do fim da Primeira Guerra. Por esse tratado, assinado em sigilo, as duas nações dividiriam o território que antes era do Império Otomano, quando este fosse derrotado no conflito.

Para eles, deu tudo certo. O Reino Unido ficou com o que hoje é a Jordânia e o Iraque. A França ficou com o que hoje é a Turquia a Síria e o Líbano. O território palestino ficou como área internacional, administrada por mandatos. O mandato britânico durou 28 anos.

Jogo duplo

Só tem um detalhe: os palestinos também ajudaram o Reino Unido nessa frente contra o Império Otomano durante a Primeira Guerra e esperavam, com a vitória, assumir o controle das terras e ver criado o Estado Palestino, o que não aconteceu.

Só depois se percebeu que os britânicos fizeram jogo duplo: atraíram os arabes/palestinos para o seu lado na guerra até 1916 (enquanto já assinavam outro acordo com a França) e, em 1917, empenhados em atrair os americanos como aliados para o conflito, ofereceram a criação do Estado de Israel aos influentes judeus que viviam nos EUA.

Tudo no mesmo território. É claro que ia dar confusão.

Administrando o caos

Os ingleses conseguiram por anos, mesmo depois da guerra, ficar administrando a impossibilidade de criar dois estados no mesmo lugar, formados por grupos que se detestam há séculos.

Os conflitos aconteciam, os judeus foram se mudando para a Palestina, mais conflitos aconteciam e assim seguiu.

Nazismo como solução

Os palestinos viram então, na Alemanha de Hitler, a possibilidade de resolver todos os seus problemas de uma vez, com o extermínio dos judeus e o enfraquecimento do Reino Unido, além de afastar o comunismo, já que os russos tinham interesses na região.

Por isso, considera-se que a derrota do nazismo foi a derrota dos palestinos também. E isso tem reflexos até hoje. Quem perde uma guerra assume consequências. A Alemanha passou décadas para se reestabelecer como nação independente e ainda carrega o peso da derrota até hoje em vários aspectos.

Houve chance

A verdade é que o jogo duplo dos britânicos, que são também culpados nesse processo, foi o que acirrou o conflito entre os dois povos na Palestina.

Foi também por isso que, em 1947, ao invés de ignorar os árabes, as Nações Unidas criaram o plano de partilha da Palestina, oficializando o que poderiam ser o Estado de Israel e o Estado Palestino.

Mesmo tendo apoiado Hitler, a Palestina poderia ter sido oficializada como uma nação após a guerra. O território seria dividido entre os dois povos. Jerusalém e Belém ficariam sob administração internacional.

Os árabes, porém, não aceitaram e somente o Estado de Israel se tornou realidade. Esse, aliás, foi o motivo da primeira guerra árabe-israelense, em 1948.

Irracionalidade

Tudo o que foi dito na primeira parte desta coluna é um resumo ínfimo da complexa relação de conflitos da região palestina.

É importante para entender o quanto tudo isso é quase infinitamente complexo e como é insano querer resumir algo assim a uma luta entre esquerda e direita, encaixando nas trincheiras que grupos políticos do outro lado do planeta, como no Brasil, querem se sustentar nas redes sociais.

Desumano

E nada, nada mesmo, justifica o ataque do Hamas, um grupo terrorista, a Israel no último sábado. Qualquer discussão sobre o que aconteceu no fim de semana e desencadeou a guerra precisa ter a premissa de que se trata de uma nação lutando contra um grupo terrorista.

Não se pode relativizar a crueldade dos atos de irracionalidade fundamentalista com o argumento de “reação legítima” pelo que quer que seja.

Muito menos por questões políticas que a maioria da imbecilidade coletiva nas redes sociais mal sabe do que se trata.

Terror

Desde que os ataques terroristas aconteceram houve manifestações no Brasil nesse tipo de relativização bizarra da gravidade dos atos. O que é um absurdo.

Dizer que qualquer dos assassinatos, estupros, abusos cometidos durante a ação podem se justificar por causa da luta palestina é igualar-se em desumanidade ao terror dessas organizações criminosas que lutam entre si e contra Israel não para “libertar o povo palestino” como repetem os defensores, mas para implantar uma teocracia e oprimir pela religião o povo que eles dizem defender.

Estupidez ideológica

Nos EUA, grupos de esquerda foram às ruas comemorar o ataque terrorista.

No Brasil, grupos de esquerda fizeram o mesmo pela internet, mas logo ficaram perdidos quando viram o presidente da República, Lula (PT), condenando os atos e prestando solidariedade a Israel. Ao invés de apoiar, adotou-se um silêncio meio perdido.

Ao mesmo tempo, ainda no Brasil, bolsonaristas vão às redes para relacionar o PT com o Hamas e até informações falsas sobre doações de Lula para o grupo foram divulgadas.

Derrota coletiva

Vive-se, em relação ao histórico conflito árabe-israelense, um tipo de miopia aprofundada por questões ideológicas que se assemelha ao mais completo estado de estupidez. Isso é ruim para o mundo e para os que o habitam.

Entre a ignorância e as falhas de caráter, constrói-se a derrota de algo que é muito maior do que árabes, israelenses, esquerda ou direita. É a derrota da humanidade.

(*) Autor/Fonte: Igor Maciel – Articulista da Coluna Cena Política do JC.


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